Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
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31 de jan. de 2017
18 de set. de 2015
Para Ver as Meninas :: Composição de Paulinho da Viola
Maurice Prendergast
Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
20 de abr. de 2014
Alborada :: Rosalía de Castro
Vaite, noi-
te, -vai fuxin-
do. -Vente, auro-
ra, -vente abrin-
do, -co teu ros-
tro-que, sorrin-
do, -¡¡¡a sombra espanta!!!
¡Canta
paxariño, can-
ta -de ponliña en pon-
la, -que o sol se levan-
ta-polo monte ver-
de, -polo verde mon-
te, -alegrando as her-
bas, -alegrando as fon-
tes...!
¡Canta, paxariño alegre,
canta!
¡Canta porque o millo medre,
canta!
¡Canta porque a luz de te escoite,
canta!
Canta que fuxéu a noite.
Noite escura
logo ven
e moito dura
co seu manto
de tristura,
con meigallos
e temores,
agoreira
de dolores,
agarimo
de pesares,
cubridora
en todo mal.
¡Sal...!
Que a auroriña
co ceu colora
cuns arbores
que namora,
cun sembrante
de ouro e prata
teñidiño
de escalarta.
Cuns vestidos
de diamante
que lle borda
o sol amante
antre as ondas
de cristal.
¡Sal...!,
señora en todo mal,
que o sol
xa brila
nas cunchiñas do areal;
que a luz
do día
viste a terra de alegría;
que o sol
derrete con amor a escarcha fría.
II
Braca auro-
ra-ven chegan-
do, -i ás porti-
ñas-vai chaman-
do-dos que dor-
men-esperan-
do-¡o teu folgor...!
Cor...
de alba hermosa
lles estende
nos vidriños
cariñosa,
donde o sol
tamén suspende,
cando aló
no mar se tende,
de fogax
larada viva,
dempóis leve,
fuxitiva,
triste, vago
resprandor.
Cantor
dos aires,
paxariño alegre,
canta,
canta porque o millo medre;
cantor
da aurora,
alegre namorado,
ás meniñas dille
que xa sal o sol dourado;
que o gaiteiro,
ben lavado,
ben vestido,
ben peitado,
da gaitiña
acompañado
¡á porta está...!
¡Xa...!
Se espricando
que te esprica,
repinica,
repinica
na alborada
ben amada
das meniñas
cantadeiras,
bailadoras,
rebuldeiras;
das velliñas
alegriñas;
das que saben
ben ruar.
¡Arriba
todas, rapaciñas do lugar,
que o sol
i a aurora xa vos vén a dispertar!
¡Arriba!
¡Arriba, toleirona mocidad,
que atru-
xaremos-cantaremos o ala...lá...!!!
Nota da autora:
A máis grande dificultade que achéi pra escribir esta alborada, foi o meu deseio de que saíse nun todo arregrada á música. Conseguín esto, pro foi a custa da poesía; non podía ser de outro modo, cando se dá cun aire tan estraño e tan difícile de acomodarlle letra algunha.
13 de out. de 2013
Beija-Flores de Carlos Drummond de Andrade
O beijo é flor no canteiro ou desejo na boca?
Tanto beijo nascendo e colhido na calma do jardim
nenhum beijo beijado (como beijar o beijo?) na boca das meninas
e é lá que eles estão suspensos invisíveis.
Tanto beijo nascendo e colhido na calma do jardim
nenhum beijo beijado (como beijar o beijo?) na boca das meninas
e é lá que eles estão suspensos invisíveis.
26 de jun. de 2013
Lembrança do mundo antigo - Carlos Drummond de Andrade
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
13 de jun. de 2013
Harry Potter de Adélia Prado
Quando era criança
escondia-me no galinheiro
hipnotizando galinhas.
Alguma força se esvaía de mim,
pois ficávamos tontas, eu e elas.
Ninguém percebia minha ausência,
o esforço de levantar-me pelas orelhas,
tentando o maravilhoso.
Até hoje fico de tocaia
para óvnis, luzes misteriosas,
orar em línguas, ter o dom da cura.
Meu treinamento é ordenar palavras:
Sejam um poema, digo-lhes,
não se comportem como, no galinheiro,
eu com as galinhas tontas.
13 de mai. de 2013
A flor com que a menina sonha de Cecília Meireles
HelgaMcL
A flor com que a menina sonha
Está no sonho?
Ou na fronha?
Sonho
Risonho:
O vento sozinho
No seu carrinho.
De que tamanho
Seria o rebanho?
A vizinha
Apanha
A sombrinha
De teia de aranha...
Na lua há um ninho
De passarinho.
A lua com que a menina sonha
É o linho do sonho
Ou a lua da fronha?
27 de mar. de 2013
Cavalos de Camila Senna
Meu Cavalo ainda é branco...
Minha rua ainda é a ladrilhar...
Os meus sonhos, ainda de menina,
que cresceu sorrindo pra vida...
3 de mar. de 2013
Para uma Menina com uma Flor de Vinicius de Moraes
Roman Urbinskiy
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
8 de fev. de 2013
Casaco Marrom de Danilo Caymmi, Renato Corrêa, Guttemberg Guarabyra
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
Tomar a mão da alegria e sair
Bye bye, Cecy "nous allons"
Copacabana está dizendo que sim
Botou a brisa à minha disposição
A bomba "H" quer explodir no jardim
Matar a flor em botão
Eu digo que não
Olhando a menina
De meia estação
Alô coração,
Alô coração, alô coração
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
14 de dez. de 2012
28 de out. de 2012
13 de mar. de 2012
Feminina de Joyce
- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
- Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
- Então me ilumina, me diz como é que termina?
- Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.
Costura o fio da vida só pra poder cortar
Depois se larga no mundo pra nunca mais voltar
Prepara e bota na mesa com todo o paladar
Depois, acende outro fogo, deixa tudo queimar
E esse mistério estará sempre lá
Feminina menina no mesmo lugar
29 de jan. de 2012
Meu avô de Débora Siqueira Bueno
"SONHO Na verdade, sonhar é outra maneira de lembrar." Freud
Essa noite sonhei com o pai de minha mãe,
meu avô bonito e mudo.
No sonho ele falava comigo,
reclamava de eu ter dito bom dia.
– É porque eu gosto do senhor, Vô!
Estava no meu quarto de menina.
Acomodei-o para que dormisse,
mas ele prosseguiu e conversava.
Seus olhos claros tinham um brilho
que a vida embaçou e nunca vi.
A voz cascateava, alegre até,
num tom que também não conheci.
Meu avô falava grego e latim;
criança, quis achar sua linguagem.
Às vezes brincava quieta ao seu lado,
horas.
Olhava-o de soslaio, tímida sorria,
esperando que a vida aparecesse.
Uma vez vieram seus irmãos,
os nomes muito antigos:
Gamaliel, Arcelino,
Alberico, Pergentino.
Sóbrios, com seus chapéus na mão,
traziam os cheiros da fazenda.
Doce de leite, goiabada e rapadura
os presentes dados.
A conversa era pausada,
Siqueiras são circunspetos.
Sentados na varanda em frente ao rio
o que mais se ouvia era a voz das águas.
Foi quando ouvi a voz do meu avô,
única vez.
Meu avô me dava livros, muitos,
devolvidos à minha avó porque pensava
que me eram dados por engano.
Sobraram dois –
um, de botânica,
o outro, de uma coleção – Pensamento Vivo,
O pensamento vivo de Freud.
Meu nome está escrito –
a mim foi dedicado.
Foi assim que meu avô falou comigo,
só o descobri depois, muito depois.
Manuseio o livro amarelado,
repleto de anotações nas margens.
Sítio arqueológico, traz impressas
mensagens destinadas ao futuro.
Ao final encontro, frases soltas –
"O eterno presente – onde o tempo não passa.
Momento da liberdade,
onde não há recordações do passado,
nem as inquietações do futuro.
Porém, a vida palpita sempre.
Sonhada felicidade, o futuro,
visão de esperança".
Meu avô no sonho ria, satisfeito, os dentes lindos.
18 de dez. de 2011
Flor de Débora Siqueira Bueno
Minha mãe ama as coisas da terra,
cultiva flores com especial desvelo.
Seu jardim era todo ladeado por íris
como aquelas,
das telas de Van Gogh.
Havia grandes flores amarelas
cujo nome não sei,
não eram girassóis.
Não sou boa de nomes. Coleciono lembranças,
perfumes e sombras.
Das mangueiras, generosas,
o chão coberto de ovais verde-amarelos.
A jabuticabeira demorou tanto a dar
que esperei a infância inteira.
Nas espatodéias eu subia alto,
eram meu reino, os cabelos soltos.
Uma vez um tio tirou minha fotografia
com sua máquina americana.
Nas cores mais lindas se via o jardim de minha mãe.
A lagoa era ainda mais azul;
os cabelos, ainda mais ruivos.
Aquele tempo só figurava em branco e preto,
mas a revelação estrangeira
capturou as cores vivas
e as sombras mortas
do meu semblante.
Lá estava a menina,
aos seis anos de idade.
Com uma blusa de marinheiro,
não fantasiava singrar mares;
nos seus sonhos,
andava no lago sob as águas.
No meio do jardim,
precocemente séria,
bela flor pesada.
5 de dez. de 2011
Menina rendeira
Menina rendeira
menina sereia da beira do mar
tua mãe te ensinou
que nas rendas tem
o brilho do ouro do mar
Que se acostumou dormir
com o barulho
dos bilros no ar
uma breve
história do mar
uma velha canção de ninar
Menina rendeira menina
o tempo não vai apagar
tuas mãos delicadas magia
na almofada
renda a brotar
Conte comigo menina
mande-me um pão-por-deus
com cheiro de manjericão
quem te ama agora sou eu
30 de out. de 2011
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