16 de jun. de 2018

Variação sobre a Palavra Dormir :: Margaret Atwood

gostava de te ver a dormir,
coisa que poderá não acontecer.
gostava de te ficar a ver,
a dormir. gostava de dormir
contigo, de entrar
no teu sono enquanto a vaga escura e lisa
desliza sobre mim

e caminhar contigo através da luzente
floresta trémula de folhas verde azuis
com o seu sol aguado e as três luas
em direcção à gruta a que deverás descer,
em direcção ao teu maior medo

gostava de te dar o ramo de prata,
a pequena flor branca, a simples
palavra que te resguardará
da mágoa que está no centro
do teu sonho, da mágoa que está
no centro. gostava de seguir
os teus passos na longa subida
mais uma vez e tornar-me
no barco que te remaria de volta
cuidadosamente, uma chama
em duas mãos postas
até onde jaz o teu corpo
ao meu lado, e tu entravas
nele tão fácil como respirar

gostava de ser o ar
que te habita por um momento
apenas. gostava de passar tão desapercebida
e ser tão necessária.

Margaret Atwood, Selected Poems II: 1976-1986, Houghton Mifflin, Boston, 1987.

s.

Variation on the Word Sleep

I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head

and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves 
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear

I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in

I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.

Nenhum comentário: