20 de set. de 2009

Sonhos da razão

El hombre moderno tiene la pretensión de pensar despierto. Pero este despierto pensamiento nos ha llevado por los corredores de una sinuosa pesadilla, en donde lo espejos de la razón multiplican la cámaras de tortura. Al salir, acaso, descubriremos que habíamos soñado com los ojos abiertos y que los sueños de la razón son atroces. Quizá, entonces, empezamos a soñar outra vez com los ojos cerrados.
PAZ, Octavio. El Laberinto de la Soledad.  p. 191.

A arte de abandonar


foto: Clarice Lispector
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está lon­ge de ser rara a situação angustiosa em que devo de­cidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça al­guma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hi­pótese que tornaria supérflua a minha desistência?
Clarice Lispector In: Um sopro de vida

13 de set. de 2009

Sonhos


Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos..."
"Estar sendo. Ter sido"  de Hilda Hilst

16 de ago. de 2009

Paisley






 Gombad Mosque (ano 800–900; Balkh, Afeganistão)

O motivo paisley estiliza o símbolo da  árvore da vida, num sentido amplo de  vida e eternidade. Existem muitas teorias sobre o motivo boteh, que conhecemos como paisley (chamado Amb, Buteh ou Buta em várias línguas). O padrão pode ser rastreado até a antiga Babilônia onde a forma de gota foi usada como símbolo para representar o crescimento do broto de uma palmeira, talvez a tamareira. Desta palmeira fazia-se comida, bebida, vestuário (fibras de tecido) e lugares para abrigo, considerada assim a "Árvore da Vida", foi gradualmente reconhecida como um símbolo de fertilidade.
Boteh é a palavra persa usada para descrever a flor em botão ou folha de palmeira sendo que na tapeçaria persa este motivo é freqüentemente encontrado em grupo ou isoladamente em intrincados desenhos. O motivo é  interpretado de várias formas: chamas, gotas de lágrima, o fruto da pinha, a pera e também o cipreste. Muito comum na região de Caxemira (Índia) em lenços e xales foi copiado pelos ingleses e reproduzido em tecelagens da cidade de Paisley (Escócia) ficando conhecido então por este nome.
O paisley foi símbolo do movimento hippie, especialmente da contracultura, apropriado talvez pela  conotação sofisticada dada pelos aristocratas britânicos onde era usado em gravatas, camisas e vestidos de seda, além dos xales de caxemira. 

26 de jul. de 2009

Domingo


foto: Caminho de Santiago 

E todo o mel dos domingos se tire;
o diamante dos sábados, a rosa
de terça, a luz de quinta, a mágica
de horas matinais, que nós mesmos elegemos
para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
de cada um de nós, no tempo.

Os últimos dias. Drummond

5 de jul. de 2009

Paisagem N.º 1



Minha Londres das neblinas finas!
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas.
Há neve de perfumes no ar.
Faz frio, muito frio...
E a ironia das pernas das costureirinhas
parecidas com bailarinas...
O vento é como uma navalha
nas mãos dum espanhol. Arlequinal!...
Há duas horas queimou Sol.
Daqui a duas horas queima Sol.

Passa um São Bobo, cantando, sob os plátanos,
um tralálá... A guarda-cívica! Prisão!
Necessidade a prisão
para que haja civilização?
Meu coração sente-se muito triste...
Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas
dialoga um lamento com o vento...

Meu coração sente-se muito alegre!
Este friozinho arrebitado
dá uma vontade de sorrir!

E sigo. E vou sentindo,
à inquieta alacridade da invernia,
como um gosto de lágrimas na boca...


Mário de Andrade

28 de jun. de 2009

Da Mafalda

"¿Qué importan los años? 


Lo que realmente importa es comprobar que al fin de cuentas 
la mejor edad de la vida es estar vivo"



21 de jun. de 2009

Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento

Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes. Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para arqueólogos do que a Torre Eifel. (Veja que só um dente de macaco!) Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante que o Empire State Building. Que o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear. Sem precisar medir o ânus da formiga. Que o canto das águas e das rãs nas pedras é mais importante para os músicos que os ruídos dos motores da Fórmula 1. Há um desagero em mim de aceitar essas medidas. Porém não sei se isso é um defeito do olho ou da razão. Se é defeito da alma ou do corpo. Se fizeram algum exame mental em mim por tais julgamentos, vão encontrar que eu gosto mais de conversar sobre restos de comida com as moscas do que com homens doutos.
Manoel de Barros 

7 de jun. de 2009

O espelho

Quando menino, eu temia que o espelho
Me mostrasse outro rosto ou uma cega
Máscara impessoal que ocultaria
Algo na certa atroz. Temi também
Que o silencioso tempo do espelho
Se desviasse do curso cotidiano
Dos horários do homem e hospedasse
Em seu vago extremo imaginário
Seres e formas e matizes novos.
(Não disse isso a ninguém, menino tímido.)
Agora temo que o espelho encerre
O verdadeiro rosto de minha alma,
Lastimada de sombras e de culpas,
O que Deus vê e talvez vejam os homens.

Jorge Luis Borges

21 de mai. de 2009

Milagre



Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. 
Ou a ausência deles. 
Duvida? 

Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.
                                                                     Guimarães Rosa