9 de nov. de 2009

Natureza e sobreviência


Dersu retrata de maneira poética e sensível as diferenças culturais entre um caçador  e um pesquisador (topógrafo) russo quanta se trata de natureza e sobrevivência. A fotografia é belíssima, mostrando as paisagens naturais da Sibéria. Impressionou-me na época.

1 de nov. de 2009

Joan Miro - Mujer que se bañaba


Antes do nome


A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
Adélia Prado, "Bagagem"

25 de out. de 2009

Paciência de Lenine






Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)


Princípio




21 de out. de 2009

O que sou então? de Clarice Lispector

imagem: Clarice Lispector 
O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.

18 de out. de 2009

Questão de pontuação de João Cabral de Melo Neto


Todo mundo aceita que ao homem

cabe pontuar a própria vida:

que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação

(foi filosofia, ora é poesia);

viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem

que use a só pontuação fatal:

que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

4 de out. de 2009

Chagall - Dança


Mandamentos de Fernando Pessoa


1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos...
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990

Imperfeita

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

"Júbilo, memória, noviciado da paixão" , de Hilda Hilst

20 de set. de 2009

Sonhos da razão

El hombre moderno tiene la pretensión de pensar despierto. Pero este despierto pensamiento nos ha llevado por los corredores de una sinuosa pesadilla, en donde lo espejos de la razón multiplican la cámaras de tortura. Al salir, acaso, descubriremos que habíamos soñado com los ojos abiertos y que los sueños de la razón son atroces. Quizá, entonces, empezamos a soñar outra vez com los ojos cerrados.
PAZ, Octavio. El Laberinto de la Soledad.  p. 191.

A arte de abandonar


foto: Clarice Lispector
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está lon­ge de ser rara a situação angustiosa em que devo de­cidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça al­guma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hi­pótese que tornaria supérflua a minha desistência?
Clarice Lispector In: Um sopro de vida

13 de set. de 2009

Sonhos


Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos..."
"Estar sendo. Ter sido"  de Hilda Hilst

16 de ago. de 2009

Paisley






 Gombad Mosque (ano 800–900; Balkh, Afeganistão)

O motivo paisley estiliza o símbolo da  árvore da vida, num sentido amplo de  vida e eternidade. Existem muitas teorias sobre o motivo boteh, que conhecemos como paisley (chamado Amb, Buteh ou Buta em várias línguas). O padrão pode ser rastreado até a antiga Babilônia onde a forma de gota foi usada como símbolo para representar o crescimento do broto de uma palmeira, talvez a tamareira. Desta palmeira fazia-se comida, bebida, vestuário (fibras de tecido) e lugares para abrigo, considerada assim a "Árvore da Vida", foi gradualmente reconhecida como um símbolo de fertilidade.
Boteh é a palavra persa usada para descrever a flor em botão ou folha de palmeira sendo que na tapeçaria persa este motivo é freqüentemente encontrado em grupo ou isoladamente em intrincados desenhos. O motivo é  interpretado de várias formas: chamas, gotas de lágrima, o fruto da pinha, a pera e também o cipreste. Muito comum na região de Caxemira (Índia) em lenços e xales foi copiado pelos ingleses e reproduzido em tecelagens da cidade de Paisley (Escócia) ficando conhecido então por este nome.
O paisley foi símbolo do movimento hippie, especialmente da contracultura, apropriado talvez pela  conotação sofisticada dada pelos aristocratas britânicos onde era usado em gravatas, camisas e vestidos de seda, além dos xales de caxemira.