31 de ago. de 2011

Trincheira


Defensa de La Alegria
Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría.

de Mario Benedetti

Poesia


25 de ago. de 2011

Artista antiburgues: Amateur, amator,

El amateur (alguien que se dedica a la pintura, la música, el deporte y la ciencia sin espíritu competitivo ni ánimo de convertirse en un maestro) renueva su placer (amator: aquel que ama una y otra vez), no es ningún héroe (de la creación, de la representación); se instala voluntariamente (a cambio de nada) en el significante: en la sustancia inmediatamente definitiva de la música y de la pintura; su práxis, por regla general; no implica ningún rubato (ese robo del objeto en beneficio del atributo); es – o acaso será – el artista antiburgués. Barthes 

7 de ago. de 2011

Solidão

É condição indispensável da vida uma certa solidão e afastamento para o próprio bem e o dos outros, caso contrário não podemos ser suficientemente nós mesmos. Será inevitável certa vagarosidade na  vida, que é como uma parada. 
Jung, Carl O livro vermelho. Editora Vozes, 2010. p. 314

29 de jul. de 2011

Claridade


A claridade não se repete. 
A vida estala uma única vez.
Fabrício Carpinejar  in Ouvidos de orvalho 

26 de jun. de 2011

Verdade



As verdades diferentes na aparência são como inúmeras folhas 
que parecem diferentes 
e estão na mesma árvore. 
Gandhi

20 de jun. de 2011

Oração Ao Tempo


És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...
Caetano Veloso

6 de jun. de 2011

Qualidade


 A gente fala de uma relação fracassada porque durou apenas seis meses, ou apenas dois anos. 'O meu casamento fracassou porque durou apenas cinco anos.'Quem disse que a duração é um índice da qualidade do relacionamento? E isso vale para a vida. O que faz uma vida valer a pena ou fazer sentido é a qualidade do que foi vivido. Eu levanto para os pais de adolescentes essa questão. Eles estão sempre tentando entender o que devem fazer para que o filho se prepare para o futuro. Isso, claro, é crucial, mas por outro lado a gente nunca deve perder de vista que os filhos não estão se preparando para o futuro, eles estão vivendo agora, a vida deles é agora. Então vale a pena sempre pensar: 'E se meu filho morresse amanhã, qual o balanço da vida dele?'. É doloroso, mas é importante.
http://revistamarieclaire.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/1,3916,1681052-1739-1,00.html

25 de mai. de 2011

Intensidade

imagem: Miss.Tic


“Para mim, o perdedor é aquele que não conseguiu viver sua vida com toda a intensidade que ela merece. O que não tem nada a ver com felicidade. O projeto de sermos felizes é profundamente errado, concebido para nos manter na insatisfação, o que é absolutamente necessário na sociedade de consumo. O ganhador é quem teve uma alta qualidade de experiência, seja qual for, que tenha sido intensamente. A felicidade, eu sou contra. Sexo não é felicidade, é alegria”.  Contardo Calligaris 

14 de mai. de 2011

Supermãe de Hélio Pellegrino




Mário de Andrade, em seu livro A Costela do Grão Cão, tem um poema que começa assim: “Existirem mães, /Isso é um caso sério. /Afirmam que a mãe /Atrapalha tudo, /É fato, ela prende /Os erros da gente, /E era bem melhor /Não existir mãe.” O poema segue, por aí afora, numa ascendente espiral de beleza, até a inigualável explosão final: “Oh virgens, perdei-vos, /Pra terdes direito /A essa virgindade /Que só as mães têm!”
Rubem Braga, numa crônica deliciosa de O Homem Rouco, dedicada ao Dia das Mães, conta a história de uma Mãe que, de repente, na praia, dá por falta do filho. Catastrófica, amputada, a Mãe hasteia o seu supergrito de desespero e horror: todo o mundo, siderado, põe-se a procurar o afogado, em rebuliço, em pânico, em convulsões e preces, até que o Joãozinho aparece lampeiro, com um sorvete na mão. A Mãe, com um tapa, quase derruba sorvete e filho — "menino desgraçado!" —, e a este, trombudo, humilhado, só resta o recurso de murmurar, entre dentes: "Mãe é chaata...".
Otto Lara Resende, num conto chamado Mater Dolorosa, narra a desventura de um menino progressivamente asfixiado pela longa — e incurável — doença da mãe. O sofrimento materno, à semelhança de um miasma em expansão, passou a impregnar todo o espaço doméstico, invadindo as salas, os móveis, o porão, o quintal, as gaiolas de passarinhos, e tudo o mais que existisse na casa. O menino, as criações, as próprias plantas começaram a morrer, confinados e apáticos, até que a morte da mater dolorosa, num cruel paradoxo, lhes trouxesse de novo o sol, a vida e a liberdade.
 Mãe será chata mesmo? Parece que, por um lado, os depoimentos neste sentido convergem, numa quase unanimidade afirmativa. O próprio Ziraldo, em bilhete a mim enviado, a propósito de sua personagem, a Supermãe, dá a respeito um testemunho saboroso. Diz ele: “Na província; nós fomos criados jogando bola na rua e voltando pra casa, pra lavar os pés e dormir. Mãe era uma coisa boa e meio distante. Cheguei aqui, e era um tal de fazer amigo que tinha que voltar pra casa, por causa da mãe, que eu fiquei besta. Cunhei até uma frase para um deles: ‘A mãe é o maior inimigo do homem".
 O Ziraldo, como bom mineiro, não se compromete. Fala da mãe dos outros e das supermães alheias, no que, aliás, obra bem. De qualquer forma, a frase dele é uma jóia de humor e de intuição psicológica. Mãe é coisa de tal forma portentosa, e de tão subida força, que um pouco é preciso denegri-la, pichá-la, para poder perdê-la. O curioso e dramático, na dialética da relação mãe-filho, é que o filho, para poder ganhar-se, enquanto sujeito humano autônomo, dono do próprio nariz, precisa criar uma distância respeitável, que o separe da mãe. Isto significa que o filho, para ter a mãe, saudavelmente, necessita perdê-la. O mesmo ocorre com a figura materna, na sua relação com o filho. Ter o filho, enquanto pessoa, centrado na própria liberdade, é abrir mão dele, é consentir na sua existência, como inventor de caminhos.
 Mãe e filho se perdem para ganhar-se, e se ganham perdendo-se. É esta a contradição geradora da inevitável ambivalência que caracteriza a relação de mãe e filho, nos dois sentidos. Há um luto e uma perda a elaborar, no diálogo entre ambos. Há o tempo que passa, e a nostalgia incurável que dele roreja — pois o tempo não volta nunca. Há, por fim, um progressivo e doloroso reconhecimento de imperfeições, perdas e danos: a mãe,  com o tempo, se torna menor, na medida que o filho cresce, até que mãe e filho passam a ser do mesmo tamanho — ambos se tornam maiores.
 O velho Freud, que não me deixa mentir, tem por um lado uma visão idílica — e isto nele é raríssimo — da relação da mãe com o filho. Trata-se do único vínculo de amor em que o desprendimento, a generosidade e o altruísmo constituem a tônica da relação. Mas, por outro lado, o criador da psicanálise, com a sua cerrada — e sábia — mania de referir tudo e todas as coisas aos componentes da sexualidade, afirma que o filho, para a mulher, é o ressarcimento, ou a indenização, por ela exigidos, em virtude do fato de lhe faltar o pênis. Pela maternidade, a mulher consegue superar ainvidia penis, fonte para ela segundo o supracitado Freud — de mortificantes sentimentos de inferioridade. O filho, inconscientemente, para a mãe, pode vir a representar a insígnia fálica que lhe falta. Ele será, então, pedaço e brinquedo narcísico da mãe, coisa e loisa dela, propriedade privada e inalienável, sem direito a uma vida própria.
 Eis aí, a meu ver, o substrato psicológico a partir do qual a mãe viria a transformar-se em supermãe. Ziraldo, cartunista de gênio, conseguiu apreender a essência do problema, através do seu traço e das situações, universais, e cotidianas, fixadas pela personagem que criou. E espantoso como o artista, pela graça do seu talento, chega a resultados que o cientista só alcança depois de longa — e porfiada — capina. Supermãe, como o mostra Ziraldo, é mãe demais, dominadora e engolfadora, cuidadosa e fervorosa a ponto de transformar o filho num permanente afogado, do qual ela representa a salvação — ou o salva-vidas. Acontece, porém, que a supermãe, ao mesmo tempo que é salvação e salva-vidas, é também o oceano, o báratro profundo, mundão de água onde o filho submerge, por contraditório decreto daquela que o deu à luz.
 É isso aí: a supermãe dá o filho à luz, isto é, ao pai, ao mundo, à cultura, aos outros e, ao mesmo tempo, quer reabsorvê-lo, aspirá-lo, reintegrá-lo na noite do seu ventre. A supermãe, na verdade, é servidora da noite, rainha da escuridão, e trabalha no sentido de uma dissolução das diferenças. Ela aspira à unidade, à fusão, ao esplendor espesso e escuro do que é completo e silencioso — esfinge de pedra.
 Acontece que a supermãe, além do mais, corresponde ao mais profundo sonho que o coração humano é capaz de sonhar. Ou melhor: a supermãe corresponde ao desejo de um sono sem sonhos, onde possamos nos perder sem sequer termos notícia de que estamos perdidos. Neste sentido, a supermãe, do ponto de vista psicanalítico, representa em nós a pulsão de morte, a tentação que temos de abdicar de nós mesmos, num naufrágio que nos dissolva no grande oceano cósmico: “É doce morrer no mar”.
 Nascemos prematurados, desequipados, numa inermidade enorme. Costumo dizer que o ser humano tem sempre mãe de menos, na medida que, ao ser dado à luz da realidade, não tem condições de suportá-la. A criança, nos seus primeiros tempos de vida, veste-se de mãe, cria para si, na fantasia, um agasalho de carne, onde se refugia - como num útero. Ela fica, desta forma, fundida à mãe — à supermãe! —, totalmente identificada a ela, num sono e num sonho em que recupera o paraíso perdido: “e que tudo o mais vá para o inferno” .
 É assim, a partir desses primórdios, que nos acumpliciamos com a supermãe. No princípio, a exigimos, por questão de sobrevivência. Depois, não sabemos abrir mão dela. Por fim, não queremos abrir mão dela. Fruto do desejo da mãe e do filho, a supermãe é criação a dois, exclusiva e excludente. Haja pai, haja terceiro, haja luz e Logos, para resolver a parada.
 Do contrário, estaremos fritos.
 Este é o prefácio escrito por 
Hélio Pellegrino para o livro “The Supermãe”, de autoria de Ziraldo, publicado pela Abril S.A. – São Paulo, 1981, pág. 4, apresentando o melhor dos 10 anos das superaventuras vividas pela Supermãe na Revista Cláudia.

8 de mai. de 2011

Significado das ordens florais entre dois sexos


Aquele casal

     Aquele casal, o marido me honra com suas confidências:
     - Ultimamente, a Elsa anda um pouco estranha. Não sei o que é, mas não me agrada a sua evolução.
     - Como assim?
     - Deu para usar estampados berrantes, de mau gosto, ela que era tão discreta no vestir.
     - É a moda.
     - Pode ser o que você quiser, porém minha mulher jamais se permitiu esses desfrutes.
     - Deixe Dona Elsa ser elegante. Não há desfrute em seguir o figurino.
     - Se fosse só o figurino. São as maneiras, os gestos.
     - Que é que tem as maneiras, os gestos?
     - A Elsa parece uma menina de quinze anos. Ficou com os movimentos mais leves, um ar desembaraçado que ela não tinha, e que não vai bem com uma senhora casada.
     - Posso dar opinião? As senhoras casadas não perdem a condição feminina, e pode até realçá-la por uma graça experiente.
     Fixou-me suspeitoso:
     - Que é que está insinuando?
     - Nada. A mulher casada desabrochou, não é mais um projeto, pode revelar melhor o encanto natural da personalidade.
     - Pois fique com suas teorias, que eu não quero saber de minha mulher revelar seu encanto a ninguém.
     - Perdão, eu...
     - Já sei. Estava querendo desculpar a Elsa.
     - Desculpar de quê?
     - De tudo que ela vem fazendo.
     - Eu ignoro tudo, e adivinho que não há nada senão...
     - Senão o quê?
     - Aquilo que o dicionário chama de ente de razão, uma fantasia completamente destituída de razão.
     - Acha então que estou maluco?
     - Acho que está sonhando coisas.
     - E a flor que ela trouxe ontem para a casa é sonho? Me diga: é sonho?
     - Que é que tem trazer uma flor para casa?
     - Veio do oculista e trouxe uma rosa. Acha direito?
     - Por que não?
     - Eu apertei, ela me disse que foi o oculista que deu a ela. Estava num vaso, ela achou bonita, ele deu.
     - E daí?
     - Então uma senhora casada vai ao oculista e o oculista lhe dá uma rosa? Que lhe parece?
     - Que ele é gentil, apenas.
     - Pois eu não vou nessa gentileza de oculista. Não há rosas nos consultórios de oftalmologia. E que houvesse. Tem propósito uma coisa dessas? Ela acabou chorando, dizendo que eu sou um bruto, um rinoceronte. Engraçado. Minha mulher vem com uma rosa para casa, uma rosa dada por um homem, e eu não devo achar ruim, eu tenho que achar muito natural.
     - Desde quando é proibido uma senhora ganhar flor de uma pessoa atenciosa? Que sentido erótico tem isso?
     - Tem muito. Principalmente se é rosa. Ora, não tente negar o significado das ordens florais entre dois sexos. O oculista não podia dar essa flor, nem ela podia aceitar. O pior é que não deve ter sido o oculista.
     - Quem foi, então?
     - Sei lá. Numa cidade do tamanho do Rio, posso saber quem deu uma rosa a minha mulher?
     - Vai ver que ela comprou na loja de flores da esquina, e disse aquilo só para fazer charminho.
     - Ela nunca fez isso. Se fez agora, foi para preparar terreno, quando chegar aqui uma corbelha de antúrios e hibiscos.
     - Não diga uma coisa dessas.
     - Digo o que penso. Estou inteiramente lúcido, só me conduzo pelo raciocínio. Repare no encadeamento: os vestidos modernos; os modos (só vendo a maneira dela se sentar no sofá); a rosa, que ela foi correndo levar para a mesinha de cabeceira do quarto. Cada uma dessas coisas é um indício; reunidas, são a evidência.
     - Permita que eu discorde.
     - Discorda sem argumentos. A Elsa não é mais a Elsa. Demora mais tempo no espelho. Fica olhando um ponto no espaço, abstrata. Depois, sorri. Estou decidido.
     - A quê?
     - Vou segui-la daqui por diante. Contrato um detetive. E logo que tenha a prova, me desquito.
     - Não vai ter prova nenhuma, juro. Ponho a mão no fogo por Dona Elsa.
     - Pensei que você fosse meu amigo. Fiz mal em me abrir. Vamos mudar de assunto que ela vem chegando. Mas repare só que os olhos de Capitu que ela tem, eu nunca havia reparado nisso!
     Esquecia-me de dizer que meu amigo tem 82 anos, e Dona Elsa, 79.

20 de abr. de 2011

Transformação




O encontro de duas personalidades 
assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas:
se alguma reação ocorre, 
ambos sofrem uma transformação.
Carl Jung

19 de abr. de 2011

Homem


                                                     Ser humano cuidadoso e plural