23 de fev. de 2015

Felicidade Clandestina :: Clarice Lispector

Winslow Homer 

"Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." 
in:  Felicidade clandestina. Editora Nova Fronteira, 1981. p. 10

21 de fev. de 2015

Minha cidade está toda cor-de-rosa :: Aldo Bonadei

Aldo Bonadei 
Não vás ainda o instante já foi
Irás de vermelho
O tempo irá contigo
Depois será outro tempo.
A cidade está toda cor-de-rosa
Cor da infância longínqua
Cidade imensa
Casa sobre casa
Sempre a mesma cor
Gás néon brinca
Sobre o azul
Inutilmente.

20 de fev. de 2015

Delicadeza :: Livia Garcia Rosa

Marcela Fernandes de Carvalho

O único tempo que nos salva é 
o tempo 
da delicadeza.

Livia Garcia Roza

Condição humana :: Agustina Bessa-Luís

CAMILO THOMÉ 
As pessoas estão prontas a viver em bom entendimento, mas não querem ser viciadas em agradar. 
A condição humana assenta num pressuposto equilibrado: a vida agrada a uns e desagrada a outros. 
Há uma parte da solidão que não podemos compor, e é melhor que assim seja, porque é na solidão 
que assenta a diferença tão falada.  
 in 'Dicionário Imperfeito'