28 de mai. de 2015

Lágrimas :: Fábio Oliveira

Gotas de não se sabe o quê.
De fome, de dor, de sede?
Do que o outro diz.
Gotas de capricho,
Infância desabrochando,
Olhar de mãe.
Sal escorrendo na face
De aflição, angústia, medo:
Vida que não se conhece,
Caminho que se segue.
Gotas de alegria,
Gozo de plenitude,
Prazer de se encontrar
No emaranhado da vida.

Leitura Natural :: Affonso Romano de Sant'Anna

Pancetti 
Tendo lido os jornais
- infectado a mente, enauseado os olhos -
descubro, lá fora, o azul do mar
e o verde repousante que começa nas samambaias da sala
e recrudesce nas montanhas.

Para que perco tantas horas do dia
nessas leituras necessárias e escarninhas?
Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler
o que a vida anuncia.

Mas vivo numa época informada e pervertida.
Leio a vida que me imprimem
e só depois
o verde texto que me exprime.

in: Epitáfio para o Século XX e Outros Poemas

Ó meu amor! ó meu damasco, ó minha seda :: Fernando Pessoa

Miró
Ó meu amor! ó meu damasco, ó minha seda,
Ó meu guizo de prata,
Meu colar de pérolas deixado em cima da cómoda,
Minha aliança de ouro em dedos já velhinhos e fieis,
Minha cantiga de raparigas ao poente,
Ó meu fumo de cigarro, tão inútil e tão necessário,
Minha Bíblia para as crianças brincarem,
Minha amante que eu queria trazer ao colo como uma filha...
Olha, tenho as mãos em febre...
Tenho a testa a escaldar, tenho os olhos muito estranhos...
Todos olham para o brilho dos meus olhos e espetam-se neles...
Eu tenho febre e tenho sede e lembro-me de ti por causa disso
Porque se eu te tivesse como te quereria ter
(Não sei se é de um modo físico, ou de um modo psíquico)
Eu não teria nem febre, nem sede, nem a testa a arder,
Nem os olhos secos, muito secos, sob a fronte...
Tu não sabes o que tem sido a minha vida!...
Tu não sabes que martírio tem sido o meu...
Se tu soubesses o que é amar as coisas simples e calmas
E não ter jeito para procurar senão as outras coisas!
Se tu soubesses porque é que quando eu estou na minha quinta de dia
Tenho saudades dela como se não estivesse lá...
Se tu soubesses o que eu sinto à noite, nos hotéis, pelas ruas,
Se tu soubesses! Mas eu próprio não sei o que é que sinto...
Minha lantejoula, minha casa de bonecas,
Ó meus brinquedos da minha infância atados com cordéis!
Ó meu regimento que passa com a banda à frente,
Minha noite no circo, nos cavalinhos, a rir dos palhaços...
Ó minha (...)
s.d.
Poemas de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. (Edição crítica de Cleonice Berardinelli.) Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.  - 325.

Oiva Toikka (1931 Viipuri (Vyborg), Finlândia)






























27 de mai. de 2015

Deus fale conosco :: Goethe


 Henri Matisse

Simplesmente não consigo compreender como é que se pode acreditar que Deus fale conosco através de livros e de histórias. Se o mundo não te revela imediatamente de que modo se relaciona contigo, se teu coração não te diz o que deves a ti próprio e aos outros, jamais o farão os livros, que na verdade só servem para dar nomes aos nossos erros. 

De: GOETHE, J.W. Wilhelm Meisters Lehrjahre. Buch VII. München: DTV, 1988.

Rosa-do-deserto, Rosa das areias (Adenium obesum, Adenium coetaneum)












Adenium obesum
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: asterídeas
Ordem: Gentianales
Família: Apocynaceae
Género: Adenium
Espécie: A. obesum

rosa-do-deserto ou lírio-impala é uma planta domesticada cujo nome científico é Adenium obesum Balf. f. da família Apocynaceae, necessita de polinização manual para sua reprodução, ou então deve-se adotar o método de mudas. Se adapta facilmente ao clima seco e quente e consegue viver em lugares ensolarados. Também encontrada na Tailândia, desertos e na África
Regas: Ao contrário do que se pensa as Rosas do Deserto (Adenium) gostam de água sim. O que elas não toleram é a terra (substrato) encharcado, por isso é altamento recomendado que os cutlivadores de Adenium utilizem substrato com alto poder de drenagem.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

26 de mai. de 2015

Gravidez :: Noemi Jaffe

Joanne Leonard. 1966.
das três, grávida, pregnant e enceinte, está claro que pregnant é a mais grávida das palavras. isso porque grávida vem de gravidade, peso e, gentil, mas implicitamente acusatória, chama a mulher de, simplesmente, gorda. já enceinte vem de rodear e, nem tão sutilmente, aponta a grávida como mulher circular. mas pregnant é impregnada, pregnante. ou seja, a melhor palavra grávida para grávida é mesmo prenha e não grávida. e não me venham com o eufemismo "estado interessante".

Orquídea Vanilla planifolia






Vanilla planifolia
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Asparagales
Família: Orchidaceae
Subfamília: Vanilloideae
Tribo: Vanilleae
Género: Vanilla
Espécie: V. planifolia
Nome binomial
Vanilla planifolia
Jacks. ex Andrews 1808
Sinónimos
Vanilla aromatica Willd. 1805
Myrobroma fragrans Salisb. 1807
Vanilla viridiflora Blume 1825
Vanilla sativa Schiede 1829
Vanilla sylvestris Schiede 1829
Vanilla duckei Huber 1909
Vanilla tiarei Costantin & Bois 1915
Vanilla fragrans Ames 1924
Vanilla tahitensis J.W.Moore 1933
Notylia sativa (Schiede) Conz. 1947
Notylia sylvestris (Schiede) Conz. 1947
Vanilla hirsuta M.A.Clem. & D.L.Jones 1996
Notylia planifolia (Jacks. ex Andrews) Conz. 1947
Vanilla planifolia é uma espécie de orquídea de hábito escandente e crescimento reptante que existe do México ao Paraguai. São plantas clorofiladas de raízes aéreas; sementes crustosas, sem asas; e inflorescências de flores de cores pálidas que nascem em sucessão, de racemos laterais.
Esta espécie de ampla distribuição, grande variabilidade e de múltiplos sinônimos, pode ser reconhecida entre as Vanilla por apresentar caules grossos e quebradiços; labelo claramente trilobado, mais curto ou do mesmo comprimento que as sépalas; grandes folhas carnosas de base larga, oblongas, com margens amareladas e extremidade abruptamente aguçada, medindo até de 22 por 6,5 centímetros; e grandes flores verde-amareladas com sépalas medindo até 6,5 centímetros de comprimento com extremidade levemente aguçada.  Seus frutos são largamente empregados na produção de baunilha.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

25 de mai. de 2015

Rua do Bonjardim :: Inês Lourenço

Vindo do marquês, o autocarro
chiava na curva estreita, soltando
os seus vapores de gasóleo, e
num portal surgia um gato pardo
para o qual me inclinei, sabendo
que fugiria ao contacto
da minha mão, ou apenas ao
esboço de carícia, como fazem
os gatos, tão fugidios na presença
de estranhos. Mas o animal, no
instante do recuo, aceitou o
deslizar dos meus dedos,
em troca de amáveis energias. E
uma longa saudade subiu-me pelo
braço, no arquear festivo
daquele pequeno tigre.

Flor-camarão (Justicia brandegeana, Beloperone guttata )





Flor-camarão
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Lamiales
Família: Acanthaceae
Género: Justicia
Espécie: J. brandegeeana
Nome binomial
Justicia brandegeeana
Wassh. & L.B.Sm. (1969)
A flor-camarão (Justicia brandegeana, embora conhecido anteriormente como Beloperone guttata) é um subarbusto da família das acantáceas,1 nativo do México. Tal planta possui folhas ovadas e inflorescências em espigas, brácteas de tom castanho, salmão, amarelado ou rosado, que protegem e por vezes ocultam pequenas flores brancas. Também é conhecida pelos nomes de beloperone, camarão, camarão-vegetal e planta-camarão.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

24 de mai. de 2015

Cantiga para Djanira :: Paulo Mendes Campos


Djanira
O vento é o aprendiz das horas lentas,
Traz suas invisíveis ferramentas,
Suas lixas, seus pentes-finos,
Cinzela seus castelos pequeninos,
Onde não cabem gigantes contrafeitos,
E, sem emendar jamais os seus defeitos,
Já rosna descontente e guaia
De aflição e dispara à outra praia,
Onde talvez possa assentar
Seu monumento de areia – e descansar.

In: Poemas. Civilização Brasileira, 1984.

Dawn Clements