14 de fev. de 2012

Toada da esquina de Mário de Andrade



Pouco antes do meio-dia
Senti que vinha. Esperei.
Veio. Passou. Foi assim
Como se a Lua passasse
Por essa picada estranha
Que viajo desde nascer.

A redoma toda verde
Do meu peito escureceu.
Noite de maio bondoso.
Lá vai a Lua passando.
Há mesmo essa refração
Que me bota no pescoço
O cachecol da Via-Látea
E a Lua na minha mão.

Mas quando quero gozar
O belo táctil luar,
E passo a mão sobre os dedos...
Tenho de desiludir-me .
Foi mentira dos sentidos,
Foi o orvalho. Nada mais.
Veio. Passou. Foi assim
Como se a Lua...

Suspiro talqual na infância.
- Que queres, Mário? - Mamãe,
Quero a Lua - Hoje é impossível,
Já vai longe. Tem paciência,
Te dou a Lua amanhã.

E espero. Esperas...Espera...

- Pinhões!

In Poesias Completas

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