21 de ago. de 2012

Como andar nas pedras, por Luis Fernando Veríssimo


foto: Rafael Souza
As casas e os sobrados antigos de Parati muitas vezes são fachadas para belos interiores modernos. Você literalmente pula de século quando entra por uma das suas portas. O mesmo não acontece com as ruas da zona histórica, que continuam como eram nos séculos 18 e 19, calçadas com pedras irregulares de vários tamanhos que obrigam o pedestre a andar com muito cuidado. É perigoso pisar desatento no passado, ainda mais depois de uma certa idade.
(...) O calçamento das ruas do centro histórico foi feito na forma de calha rasa, sendo a parte mais baixa o eixo central da rua. Neste foram usadas pedras mais compridas e uniformes e mais alinhadas do que as outras. São as capistranas, que formam uma espécie de trilha à prova de tropeções. Pelo menos para nós, os iniciados.
E não deixa de haver uma certa justeza poética no fato de alguns dos maiores escritores do mundo terem que andar de pedra em pedra, escolhendo as mais aparentemente firmes e seguras e evitando as mais traiçoeiras. De certa maneira, é o que eles fazem quando escrevem. Vão escolhendo as palavras certas para chegar onde querem, evitando a queda e o vexame publico. Parati, para quem anda pelas suas ruas, também é um exercício de estilo.
fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/07/12/como-andar-nas-pedras-por-luis-fernando-verissimo-455035.asp

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