11 de nov. de 2012

O vestido de Adélia Prado


No armário do meu quarto 
escondo de tempo e traça meu vestido 
estampado em fundo preto.

É de seda macia desenhada em campânulas
vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. 
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, 
meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. 
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: 
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão. 
De tempo e traça meu vestido me guarda.

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