16 de ago. de 2015

Prefiro :: Wislawa Szymborska

Prefiro cinema.

Prefiro os gatos.

Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.

Prefiro Dickens a Doistoievski.

Prefiro-me gostando dos homens

em vez de estar amando a humanidade.

Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.

Prefiro a cor verde.

Prefiro não afirmar

que a razão é culpada de tudo.

Prefiro as exceções.

Prefiro sair mais cedo.

Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.

Prefiro as velhas ilustrações listradas.

Prefiro o ridículo de escrever poemas

ao ridículo de não escrever.

No amor prefiro os aniversários não redondos

para serem comemorados cada dia.

Prefiro os moralistas,

que não prometem nada.

Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.

Prefiro a terra à paisana.

Prefiro os países conquistados
aos países conquistadores.

Prefiro ter abjecções.

Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.

Prefiro contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.

Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.

Prefiro os cães com o rabo não cortado.

Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.

Prefiro as gavetas.

Prefiro muitas coisas que aqui não disse,

e outras tantas não mencionadas aqui.

Prefiro os zeros à solta
 a tê-los numa fila junto ao algarismo.

Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.

Prefiro isolar.

Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.

Prefiro levar em consideração até a possibilidade

do ser ter a sua razão.

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