31 de dez. de 2015

Versos de fim de ano :: Carlos Drummond de Andrade

Botero
I

Você sabia que a lua
ainda não foi visitada?
Que há sempre uma lua nova
dentro de outra, e encantada?

É lá que vivem as graças
que nesta quadra do ano
a gente sonha e deseja
a todo o gênero humano.

Mas a lua, preguiçosa,
nem sempre atende à pedida?
A gente pede assim mesmo
até melhorar a vida.

II
É tempo de pesquisar no tempo
uma estrela nova, um sorriso;
de dizer à nuvem: sê escultura;
e à escultura: sê nuvem.

Tempo de desejar, tempo de pensar
madura e docemente o bom tempo de acontecer
(e mesmo não acontecendo fica desejado),
pássaro-mensageiro, traço
entre vida e esperança
como satélite no espaço.

III
Na volta da esperança,
um princípio de vida:
ser outra vez criança
por toda, toda a vida.


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