14 de set. de 2016

A verdadeira elegância :: Clarice Lispector



Megan Hess
Disse alguém que a verdadeira elegância não é sequer notada. Não andemos tão longe. Mas é necessário convir que não é pela atenção que se chama que se pode avaliar elegância. De fato, muitas mulheres crêem que, quanto mais jóias, mais bela ficarão. Não saber parar de se enfeitar é como não saber parar de comer. Só que, na elegância, a indigestão é dos olhos.
Não use roupas que a incomodam. Por mais belas que sejam, ao fim de algum tempo, prejudicarão a graça dos gestos, a naturalidade, dando um ar “endomingado” a quem as use. Quem pode sorrir espontaneamente quando a cinta está tão apertada que quase tira folêgo?
De que adianta estar com um vestido bonito, se você ficar puxando a saia ou endireitando a gola ou acertando o cinto ou alisando as pregas, ou, ou, ou, etc. Um dos melhores modos de usar bem um vestido é, depois de vesti-lo, esquecer-se dele.
A mulher usa roupas que lhe assentam. Mas deve também adaptar-se às roupas que usa. Por exemplo: que acha de uma jovem em vestido de noite, caminhando com passadas de quem está jogando tênis? Ou que pensa você de uma criatura vestida com saia e blusa a atravessar uma rua como se arrastasse uma longa cauda de vestido?
 In: Correio Feminino

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