Antonio Candido:
Gosto tanto de você. Parece que o conheço desde que nasci, pois é tão parecido com a gente da minha família: modo de ser, de se vestir, de falar, de ficar indignado. Neste dia em que escrevo, bem que gostaria de lhe dar um abraço daqueles apertados e até um beijo. Mas se não vou até aí, é porque não consegui me desvencilhar do medo fóbico que tenho de viagens e de avião. De todo modo, a distância que me separa de você, eu a venço com a sua lembrança. Penso no que eu poderia dizer e ouvir, construo conversas imaginárias que me parecem reais, já que tenho de cor o som de sua voz acompanhada por sua gesticulação de dedos compridos e finos como os de Murilo Mendes. É como ouvir e ver uma música e sua regência dentro de mim. Com todo o afeto e saudade de Cristina e Armando.
ARMANDO FREITAS FILHO, 77, poeta, é autor de "Dever" (Companhia das Letras).
A carta estava sendo feita para o seu aniversário, em julho. Gostava de escrever para Antonio Candido com antecedência, a fim de ter tempo para caprichar até não poder mais, com a minha amizade por ele bem inspirada na minha mão e no meu coração. Ele morreu, mas a lembrança da sua voz escrita e falada nos ajudará sempre.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
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