Matisse
eu sou do lar. nasci nele, nele me criei e moro nele. ele não é meu, mas eu sou dele. pertenço a ele, sou mulher. laris era o espírito que protegia as casas e é daí também que vem a palavra lareira. eu também sou uma lareira. cuido do lar e adoro esse deus que o protege. eu sirvo o lar, sou mulher. às vezes saio. vou ao supermercado ver as flutuações dos preços. o lar me deixa ir, porque precisa conhecer essas flutuações. quando saio e vou ao supermercado volto para o lar flutuando, mas o lar me estabiliza e novamente me assento. sou mulher. digo ao lar: o preço do mamão flutuou dez por cento desde a semana passada. o lar fica bravo, quer saber se a culpa não é minha. não, eu digo. sou responsável pela verificação e não pela variação. o lar compreende. ele é bonzinho. eu sou dele. cuido dele e também faço tudo para que meu marido e meus filhos se sintam bem nele quando voltam lá de fora. eles chegam e pensam: que lar bom.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
12 de set. de 2017
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