9 de abr. de 2020

Rita Lee e a quarentena


"Eu, que pago para não sair de casa, que só saio da toca em caso de emergência, tenho algumas dicas para você se distrair enquanto estiver em isolamento forçado. Há 8 anos vivo enfurnada e há sempre coisas interessantes para fazer.

Nada melhor do que ter a companhia de bichos, que oferecem serenidade e alegria: cuidar e brincar com animais faz o tempo passar de maneira mais divertida. Arranjar uma mudinha de planta e acompanhar o crescimento dela é emocionante. Aproveite e plante em vasinhos: cebolinha, salsinha, tomates-cereja... até alface. Descole uma orquídea, ainda com brotinhos, para acompanhar o desabrochar, lindamente, dia a dia.

Espalho telas e tintas sobre uma mesa e me arrisco a pintar alguma coisa, mexer com cores dá uma alegria na cabeça enquanto escuto músicas que me fazem feliz. Tenho feito tricô, fabrico mantas para os bichos usarem quando o inverno chegar. Escrevi uma letra vudu sobre o coronavírus e fiz uma música punk para combinar com a noia que acontece: chama-se ‘Vírus do horror’.

Faço minhas unhas e pinto de várias cores. Pratico feldenkrais por skype para meu corpo não enferrujar. Assisto séries diversas e filmes antigos na TV. Outro dia matei a saudade de um clássico dos anos 1950, ‘O dia em que a Terra parou’, bem no clima de hoje. E, é claro, sempre rola um filme de James Dean no salão.

Escolhi passar apenas 3 horas por dia acompanhando as notícias do coronavírus, mais do que isso fico deprê. Depois, acendo velas e incensos na frente do meu altarzinho com todo tipo de divindades. Peço, em especial, para Nossa Senhora Aparecida proteger o Brasil com seu manto milagroso.

Ando fuçando minha biblioteca, escolhendo livros que já li e esqueci. Arrumo gavetas, jogo fora um monte de traquitanas inúteis que acumulei ao longo dos anos. Fico namorando e limpando minha coleção de cristais phantom e meus pesos de papel. Lavo as mãos duzentas vezes por dia cantando ‘Parabéns a você’ e estou viciada em passar álcool gel, hábitos modernos.

Tenho a sorte de morar numa casinha no meio do mato com meu namorado e passeamos pelo jardim conversando com as plantas. Acabei de escrever um livro e não consigo defini-lo: se é um diário, citações esquisitas, autoajuda a mim mesma ou nonsenses da minha cabeça.

Pego o violão e noto que esqueci como tocar a maioria das minhas músicas. O que me deixa mais triste é não poder receber visitas dos meus filhos e netos, mas nada que um facetime não resolva provisoriamente.

Minha impressão é a de que nesse confinamento forçado que a humanidade está sendo obrigada a passar há um propósito Divino. Um teste para que aqueles que sobreviverem a essa guerra invisível se conscientizem de que o planeta Terra está realmente sendo destruído pelos donos do poder de cada país. E que se não modificarem radicalmente seus comportamentos em todas as áreas, aí, sim, será a Terceira Guerra derradeira. Saúde física, mental, psicológica e espiritual para todos!”

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