11 de mai. de 2021

Ai daqueles que nos amam :: Hilda Hilst

 Nós, poetas e amantes

o que sabemos do amor?

Temos o espanto na retina

diante da morte e da beleza.

Somos humanos e frágeis

mas antes de tudo, sós.


Somos inimigos.

Inimigos com muralhas

de sombra sobre os ombros.

E sonhamos. Às vezes

damos as mãos àqueles

que estão chorando.

(os que nunca choraram por nós)


Ah, meus irmãos e irmãs...

Ai daqueles que nos amam

e que por amor de nós se perdem.

Ah, pudéssemos amar um homem

ou uma mulher ou uma coisa...

Mas diante de nós, o tempo

se consome, desaparece e não para.


Ouvi: que vossos olhos se inundem

de pranto e água de todo o mundo!

Somos humanos e frágeis

mas antes de tudo, sós.


De Balada do Festival (1955)

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