14 de jan. de 2025

REI MENINO :: Marcílio Godoi

 No galho mais firme da goiabeira

ergo meu trono de Rei menino.


Pássaros ressoam-me trombetas triunfantes

enquanto tatus-bolas passam-me a guarda imperial.


Galhadas insinuantes ao vento coroam-me

com louros perfumados de doce de tacho

e oferecem-me de bandeja deliciosos frutos

verdes, pois que os maduros têm bicho.


Corto a flor das ramagens e condecoro-me

nobre guerreiro a mim mesmo.

Afinal, os dragões brancos dos frutos maduros

foram todos dizimados pela minha ousada política

de antecipação da colheita.


Sob a copa de meu castelo

dois bambus estirados num arame

esvoaçam seus panos à minha glória

bandeira, capa, espada e lança

da minha insigne última batalha

contra os feudos vizinhos de além muro.


Do honroso combate hercúleo

resultaram muitas baixas

mas agora tudo está em paz

no Reino da Goiabas Verdes...


Esperem, ainda não!


Atrás dos manacás da cerca viva

espreitam-me outra vez

os malditos carrapatos

espalhados em minas de carrapichos

por todo o terreno! 


Com meu vasto arsenal de mamonas,

entretanto, com alto poder

de destruição em massa

resistirei bravamente, em posição de sentido

até a morte, se preciso for!


Alto lá! por motivo de força maior

missão abortada, atenção!

Descansar, súditos!


Uma ordem, de repente, nos detém a todos:

Lição de casa, volver!



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