12 de ago. de 2025

O descanso do guerreiro :: Roque Dalton

 O DESCANSO DO GUERREIRO


os mortos estão a cada dia mais indóceis.

antes era fácil com eles:

dávamos-lhes um colarinho duro uma flor

louvávamos seus nomes numa longa lista:

que os recintos da pátria

que as sombras notáveis

que o mármore monstruoso.

o cadáver assinava em nome da memória:

voltava a se alinhar

e marchava ao compasso da nossa velha música.

mas que nada

os mortos

são outros desde então.

hoje tornam-se irônicos

perguntam.

parece-me que se dão conta

de ser cada vez mais a maioria.

dia após dia.



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