29 de out. de 2015

NADA NÃO :: José Almino

Gene Davis 
Se eu tivesse ficado em casa,
traria nos olhos, fixado em moldura
o meu quintal,
onde as palavras dormiam
e só o mundo era inquieto.

Viveria ao sopro do afeto
ou de ódios antigos
em meio aos deuses e a uma eterna paciência.

Não haveria mais cedo nem mais tarde
e o futuro não me seria arrebatado.

Encouraçado e cozido dentro da pele
em agulha e fio firme, um nó cego,
um baque n’água,
que ninguém ouve
ou jamais ouviu
ou ouvirá.

28 de out. de 2015

Melaleuca lanceolata, árvore-Ti, Tea Tree, ou Árvore-do-chá.





Melaleuca
Melaleuca lanceolata
Melaleuca lanceolata
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Myrtales
Família: Myrtaceae
Género: Melaleuca
Melaleuca é um género botânico pertencente à família Myrtaceae.

A Melaleuca alternifolia nativa da Austrália é também conhecida como árvore-Ti, Tea Tree, ou Árvore-do-chá.

Árvore-do-Chá é um arbusto pertencente ao género Melaleuca, também conhecido como "mirto-de-mel", os quais incluem as espécies M. alternifolia e M. leucadrendron. Ambas as variedades são utilizadas na medicina, apesar do seu nome, não têm qualquer relação com o que comummente conhecemos como chá.

História e origens
Cultivam-se principalmente na Austrália, onde são muito apreciadas pelas suas propriedades. Da árvore-do-chá extrai-se um óleo muito aromático e antisséptico, que se comercializa de diferentes formas, sobretudo como loção para primeiras curas. O óleo da Melaleuca alternifolia é muito eficaz como agente antibacteriano e antifúngico e como estimulador das defesas do organismo. As suas aplicação são tão variadas que tanto se usa para eliminar verrugas como em casos de candidíase vaginal. As propriedades do óleo Malaleuca leucadrendron são similares, mas é mais estimulante do que o do Melaleuca alternifolia e tem um aroma canforado, pelo que se costuma utilizar como vermífugo e analgésico, para aliviar espasmos, doenças respiratórias e é especialmente útil em casos de dores de dentes. Embora os aborígenes australianos o utilizassem desde tempos remotos, oficialmente só foi registado na década de 1920, quanto as análises efetuadas revelam enorme eficácia deste óleo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados australianos usavam-no como desinfetante.

Uso
Medicinal
A Melaleuca alternifolia é usada para aliviar os sintomas proprios do pé-de-atleta e para eliminar verrugas, úlceras, acne, eritemas solares, piolhos e candidíase vaginal. A Melaleuca leucadrendron é recomendável em casos de sinusite, bronquite, infeções estomacais, lombrigas, reumatismo, nevralgias, contracções musculares, gota e diversas infeções cutâneas. O óleo da Melaleuca cajuputi usado como analgésico e anti-séptico, como da M. leucadrendron.

Cosmética
Utilizar diluído em água para uma eficaz limpeza cutânea e para tratar as borbulhas. O óleo da M. alternifolia é útil na elaboração de cremes para mãos e o corpo.

Caseiro
O óleo do M. leucadrendron é um potente inseticida, sendo utilizado igualmente no fabrico de detergentes. Também se usa na pastelaria como potenciador de sabor.

Atenção
Não se deve ingerir durante a gestação e recomenda uma utilização equilibrada, não exagere pois algumas determinadas plantas contém sempre teor de intoxicação.

Referências
COSTA, Cássio - Segredos das Fontes Verdes
Planeta DeAgostini - Segredos das Plantas
fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

JONAS :: TOMAŽ ŠALAMUN (Zagreb,Croácia, 1941 - 2014)


 Arkhip Kuindzhi
como o sol se põe?
como a neve
qual é a cor do mar?
grande
Jonas, você é salgado?
sou salgado
Jonas, você é uma bandeira?
sou uma bandeira
Os vaga-lumes descansam agora

como são as pedras?
verdes
e como os cachorrinhos brincam?
como flores
Jonas, você é um peixe?
sou um peixe
Jonas, você é um ouriço do mar?
sou um ouriço do mar,
ouça a corrente

Jonas é a cerva que corre pelo bosque
Jonas é a montanha que respira
Jonas é todas as casas
você já ouviu tal arco-íris?
como é o orvalho?
você está dormindo?

tradução de Flávio Britto

27 de out. de 2015

Agroglifos: das palavras gregas agro (campo) e glifo (entalhe)














http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI345188-18580,00-AGROGLIFOS+DE+SANTA+CATARINA+CIRCULOS+EM+PLANTACOES+AINDA+NAO+SAO+ASSUNTO+S.html

Escultura no metal :: idestudiet






































Eu terra :: Ana Estaregui

Olafur Eliasson, 1997
sempre gostei da palavra island.
talvez por causa desse som elíptico do ésse ou talvez, sei lá, por outra coisa que não se explica.

o fato é que me impressiona essa afirmação que a terra faz aos quatro ventos ao mar: eu, terra, resisto às tuas águas.

26 de out. de 2015

OUTRO DIA :: José Almino


A luz era variável e branda,
sem tirar nem pôr.
E o rio corria lento atrás das casas,
só faltava falar.

Sem tirar nem pôr.

Cedinho, as costureiras,
gente tão mansa e afável,
passavam, 
entristeciam a alva em surpresa.

E a poesia era desnecessária.

25 de out. de 2015

Nosso Tempo :: Carlos Drummond de Andrade

I

Esse é Tempo De Partido,
Tempo De Homens Partidos.

Em Vão Percorremos Volumes,
Viajamos E Nos Colorimos.
A Hora Pressentida Esmigalha-se Em Pó Na Rua.
Os Homens Pedem Carne. Fogo. Sapatos.
As Leis Não Bastam. Os Lírios Não Nascem
Da Lei. Meu Nome é Tumulto, E Escreve-se
Na Pedra.

Visito Os Fatos, Não Te Encontro.
Onde Te Ocultas, Precária Síntese,
Penhor De Meu Sono, Luz
Dormindo Acesa Na Varanda?
Miúdas Certezas De Empréstimos, Nenhum Beijo
Sobe Ao Ombro Para Contar-me
A Cidade Dos Homens Completos.

Calo-me, Espero, Decifro.
As Coisas Talvez Melhorem.
São Tão Fortes As Coisas!
Mas Eu Não Sou As Coisas E Me Revolto.
Tenho Palavras Em Mim Buscando Canal,
São Roucas E Duras,
Irritadas, Enérgicas,
Comprimidas Há Tanto Tempo,
Perderam O Sentido, Apenas Querem Explodir.

Ii

Esse é Tempo De Divisas,
Tempo De Gente Cortada.
De Mãos Viajando Sem Braços,
Obscenos Gestos Avulsos.

Mudou-se A Rua Da Infância.
E O Vestido Vermelho
Vermelho
Cobre A Nudez Do Amor,
Ao Relento, No Vale.

Símbolos Obscuros Se Multiplicam.
Guerra, Verdade, Flores?
Dos Laboratórios Platônicos Mobilizados
Vem Um Sopro Que Cresta As Faces
E Dissipa, Na Praia, As Palavras.

A Escuridão Estende-se Mas Não Elimina
O Sucedâneo Da Estrela Nas Mãos.
Certas Partes De Nós Como Brilham! São Unhas,
Anéis, Pérolas, Cigarros, Lanternas,
São Partes Mais íntimas,
E Pulsação, O Ofego,
E O Ar Da Noite é O Estritamente Necessário
Para Continuar, E Continuamos.

Iii

E Continuamos. É Tempo De Muletas.
Tempo De Mortos Faladores
E Velhas Paralíticas, Nostálgicas De Bailado,
Mas Ainda é Tempo De Viver E Contar.
Certas Histórias Não Se Perderam.
Conheço Bem Esta Casa,
Pela Direita Entra-se, Pela Esquerda Sobe-se,
A Sala Grande Conduz A Quartos Terríveis,
Como O Do Enterro Que Não Foi Feito, Do Corpo Esquecido Na Mesa,
Conduz à Copa De Frutas ácidas,
Ao Claro Jardim Central, à água
Que Goteja E Segreda
O Incesto, A Bênção, A Partida,
Conduz às Celas Fechadas, Que Contêm:
Papéis?
Crimes?
Moedas?

Ó Conta, Velha Preta, ó Jornalista, Poeta, Pequeno Historiados Urbano,
ó Surdo-mudo, Depositário De Meus Desfalecimentos, Abre-te E Conta,
Moça Presa Na Memória, Velho Aleijado, Baratas Dos Arquivos, Portas Rangentes, Solidão E Asco,
Pessoas E Coisas Enigmáticas, Contai;
Capa De Poeira Dos Pianos Desmantelados, Contai;
Velhos Selos Do Imperador, Aparelhos De Porcelana Partidos, Contai;
Ossos Na Rua, Fragmentos De Jornal, Colchetes No Chão Da
Costureira, Luto No Braço, Pombas, Cães Errantes, Animais Caçados, Contai.
Tudo Tão Difícil Depois Que Vos Calastes...
E Muitos De Vós Nunca Se Abriram.

Iv

É Tempo De Meio Silêncio,
De Boca Gelada E Murmúrio,
Palavra Indireta, Aviso
Na Esquina. Tempo De Cinco Sentidos
Num Só. O Espião Janta Conosco.

É Tempo De Cortinas Pardas,
De Céu Neutro, Política
Na Maçã, No Santo, No Gozo,
Amor E Desamor, Cólera
Branda, Gim Com água Tônica,
Olhos Pintados,
Dentes De Vidro,
Grotesca Língua Torcida.
A Isso Chamamos: Balanço.

No Beco,
Apenas Um Muro,
Sobre Ele A Polícia.
No Céu Da Propaganda
Aves Anunciam
A Glória.
No Quarto,
Irrisão E Três Colarinhos Sujos.

V

Escuta A Hora Formidável Do Almoço
Na Cidade. Os Escritórios, Num Passe, Esvaziam-se.
As Bocas Sugam Um Rio De Carne, Legumes E Tortas Vitaminosas.
Salta Depressa Do Mar A Bandeja De Peixes Argênteos!
Os Subterrâneos Da Fome Choram Caldo De Sopa,
Olhos Líquidos De Cão Através Do Vidro Devoram Teu Osso.
Come, Braço Mecânico, Alimenta-te, Mão De Papel, é Tempo De Comida,
Mais Tarde Será O De Amor.

Lentamente Os Escritórios Se Recuperam, E Os Negócios, Forma Indecisa, Evoluem.
O Esplêndido Negócio Insinua-se No Tráfego.
Multidões Que O Cruzam Não Vêem. É Sem Cor E Sem Cheiro.
Está Dissimulado No Bonde, Por Trás Da Brisa Do Sul,
Vem Na Areia, No Telefone, Na Batalha De Aviões,
Toma Conta De Tua Alma E Dela Extrai Uma Porcentagem.

Escuta A Hora Espandongada Da Volta.
Homem Depois De Homem, Mulher, Criança, Homem,
Roupa, Cigarro, Chapéu, Roupa, Roupa, Roupa,
Homem, Homem, Mulher, Homem, Mulher, Roupa, Homem,
Imaginam Esperar Qualquer Coisa,
E Se Quedam Mudos, Escoam-se Passo A Passo, Sentam-se,
últimos Servos Do Negócio, Imaginam Voltar Para Casa,
Já Noite, Entre Muros Apagados, Numa Suposta Cidade, Imaginam.
Escuta A Pequena Hora Noturna De Compensação, Leituras, Apelo Ao Cassino, Passeio Na Praia,
O Corpo Ao Lado Do Corpo, Afinal Distendido,
Com As Calças Despido O Incômodo Pensamento De Escravo,
Escuta O Corpo Ranger, Enlaçar, Refluir,
Errar Em Objetos Remotos E, Sob Eles Soterrados Sem Dor,
Confiar-se Ao Que Bem Me Importa
Do Sono.

Escuta O Horrível Emprego Do Dia
Em Todos Os Países De Fala Humana,
A Falsificação Das Palavras Pingando Nos Jornais,
O Mundo Irreal Dos Cartórios Onde A Propriedade é Um Bolo Com Flores,
Os Bancos Triturando Suavemente O Pescoço Do Açúcar,
A Constelação Das Formigas E Usurários,
A Má Poesia, O Mau Romance,
Os Frágeis Que Se Entregam à Proteção Do Basilisco,
O Homem Feio, De Mortal Feiúra,
Passeando De Bote
Num Sinistro Crepúsculo De Sábado.

Vi

Nos Porões Da Família
Orquídeas E Opções
De Compra E Desquite.
A Gravidez Elétrica
Já Não Traz Delíquios.
Crianças Alérgicas
Trocam-se; Reformam-se.
Há Uma Implacável
Guerra às Baratas.
Contam-se Histórias
Por Correspondência.
A Mesa Reúne
Um Copo, Uma Faca,
E A Cama Devora
Tua Solidão.
Salva-se A Honra
E A Herança Do Gado.

Vii

Ou Não Se Salva, E é O Mesmo. Há Soluções, Há Bálsamos
Para Cada Hora E Dor. Há Fortes Bálsamos,
Dores De Classe, De Sangrenta Fúria
E Plácido Rosto. E Há Mínimos
Bálsamos, Recalcadas Dores Ignóbeis,
Lesões Que Nenhum Governo Autoriza,
Não Obstante Doem,
Melancolias Insubornáveis,
Ira, Reprovação, Desgosto
Desse Chapéu Velho, Da Rua Lodosa, Do Estado.
Há O Pranto No Teatro,
No Palco ? No Público ? Nas Poltronas ?
Há Sobretudo O Pranto No Teatro,
Já Tarde, Já Confuso,
Ele Embacia As Luzes, Se Engolfa No Linóleo,
Vai Minar Nos Armazéns, Nos Becos Coloniais Onde Passeiam Ratos Noturnos,
Vai Molhar, Na Roça Madura, O Milho Ondulante,
E Secar Ao Sol, Em Poça Amarga.
E Dentro Do Pranto Minha Face Trocista,
Meu Olho Que Ri E Despreza,
Minha Repugnância Total Por Vosso Lirismo Deteriorado,
Que Polui A Essência Mesma Dos Diamantes.

Viii

O Poeta
Declina De Toda Responsabilidade
Na Marcha Do Mundo Capitalista
E Com Suas Palavras, Intuições, Símbolos E Outras Armas
Prometa Ajudar
A Destruí-lo
Como Uma Pedreira, Uma Floresta
Um Verme.

A uma passante :: Charles Baudelaire

Federico Zandomeneghi


A uma transeunte

A rua ensurdecedora em meu redor berrava
Alta, esguia, de luto carregado, dor majestosa,
Um mulher passou, com sua mão faustosa
Erguendo, baloiçando o ramo e a bainha

Ágil e nobre, com sua perna de estátua,
Eu bebia, crispado como extravagante,
No seu olhar, céu lívido onde nasce o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que mata

Um raio… em seguida, a noite!  - Beleza fugitiva
Cujo olhar me fez repentinamente renascer,
Só voltarei a ver-te na eternidade?

Algures, bem longe daqui! Demasiado tarde! Nunca talvez!
Eu não sei para onde fugiste, tu não sabes para onde vou,
Tu que eu teria amado, tu que sabias que sim!

Tradução de Maria Gabriela Llansol

.........

A rua em derredor era um ruído incomum, 
longa, magra, de luto e na dor majestosa, 
Uma mulher passou e com a mão faustosa 
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata. 
Eu bebia perdido em minha crispação 
No seu olhar, céu que germina o furacão, 
A doçura que embala o frenesi que mata.

Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade, 
E cujo olhar me fez renascer de repente, 
Só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente! 
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais, 
Tu que eu teria amado — e o sabias demais! 

Tradução de  Paulo Menezes

........

A uma passante
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.

Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.

Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho… e a noite depois! – Fugitiva beldade

De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! “nunca” talvez!

Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

Tradução de Guilherme de Almeida

A uma Passante
A rua em derredor era um ruído incomum,

Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.

Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que se embala e o frenesi que mata.

Um relâmpago, e após a noite! – Aérea beldade,

E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, “jamais” provavelmente!

Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado – e o sabias demais!
Tradução de Jamil Haddad


À une passante (original)
La rue assourdissante autour de moi hurlait.

Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de stautue.

Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair…puis la nuit! – Fugitive beauté

Dont le regard m’a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l’eternité?

Ailleurs, bien loin d’ici! trop tard! “jamais” peut-être!

Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!

24 de out. de 2015

Jenipapo (Genipa americana)






Jenipapo é o fruto do jenipapeiro (Genipa americana), uma árvore que chega a vinte metros de altura e é da família Rubiaceae, a mesma do café. É encontrada em toda a América tropical. No Brasil, encontramos pés de jenipapo nativos na Amazônia e na mata atlântica, principalmente em matas mais úmidas, ou próximo a rios - a planta inclusive aguenta encharcamento. Em guarani, jenipapo significa "fruta que serve para pintar". Isso porque, do sumo do fruto verde, se extrai uma tinta com a qual se pode pintar a pele, paredes, cerâmica etc. O jenipapo é usado por muitas etnias da América do Sul como pintura corporal e some depois de aproximadamente duas semanas. A bela coloração azul-escura formada deve-se ao contacto da genipina contida nos frutos verdes com as proteínas da pele, sob ação do oxigênio atmosférico.

O termo "Jenipapo" origina-se do termo tupi yandï'pawa.
Descrição
O fruto é uma baga subglobosa geralmente de cor amarelo-pardacenta. Sua polpa tem cheiro forte e é comestível, mas é mais apreciada na forma de compotas, doces, xaropes, bebida refrigerante, bebida vinosa e licor.

O licor de jenipapo é uma bebida apreciada na Bahia, em Pernambuco e em cidades de Goiás, inclusive muito vendida em comércios de cidades turísticas como Caldas Novas e Jataí. Nas festas juninas da Bahia, o licor de jenipapo é o mais apreciado e os mais famosos são produzidos no Recôncavo baiano, de forma artesanal, em toneis que ficam em infusão por um ano até serem envasados e consumidas no São João. As cidades com maior tradição na fabricação deste tipo de bebida são Maragojipe, Cachoeira, Cruz das Almas e Santo Amaro.

Algumas partes do jenipapeiro (como a raiz, as folhas e o fruto) têm diferentes propriedades medicinais. As cascas do caule e as cascas do fruto verde são usadas também para curtir couro, por serem ricas em tanino. O jenipapo usado em forma de garrafada serve para emagrecimento e junção em dietas para redução de colesterol ruim.[carece de fontes]

Jenipapo é uma fruta que se parece com o figo, só que um pouco maior. Fruto do jenipapeiro, deve ser colhido no ponto certo de maturação para que possa ser aproveitado. Embora seja consumido ao natural, seu uso mais freqüente é sob a forma de licor. Na medicina caseira, o jenipapo é utilizado como fortificante e estimulante do apetite. É um fruto comestível ao natural e empregado no preparo de compota, doce cristalizado, refresco, suco, polpa, xarope, licor, vinho, álcool, vinagre e aguardente. A jenipapada é um doce feito de jenipapo cortado em pedacinhos e misturado ao açúcar, sem ir ao fogo. 0 Jenipapo possui um elevado conteúdo de ferro. Por isso, é aconselhável um grande uso dessa rubiácea. Também possui cálcio, hidratos de carbono, calorias, gorduras, água, e às vitaminas B1, B2, B5 e C. Acredita-se no Norte e no Nordeste do Brasil, que o suco de jenipapo é adequado para combater a anemia decorrente do impaludismo ou das verminoses. Segundo autoridades científicas, esse fruto faz bem aos asmáticos. Como diurético, o suco do fruto é aconselhável nos casos de hidropisia.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Pelo Sul :: Fabrício Corsaletti


em algum momento entendi que adorava
varais com roupas estendidas

no quintal de casa
nos filmes italianos
num bairro do século XVIII em Marselha

a maneira como as camisas
não se desesperam
as calças não se cansam

as cuecas e as calcinhas convivem
pacificamente
embora continuem a desejar
as meias jamais se iludem
os sutiãs são honestos
e os vestidos e as saias existem
pelo mesmo motivo que os poetas escrevem –
para que os ossos brilhem na noite

desde então
o mundo pode ter atirado
meus mortos num poço de merda
mas se topo de manhã com um varal pelas ruas
rio por dentro porque sei que no fundo
fui quase sempre amoroso e feliz