25 de ago. de 2016

Pensamento


Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequenino, mas noutro, 
de repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez. 
A gente deve de esperar o terceiro pensamento.
Guimarães Rosa 

24 de ago. de 2016

Chuchu, caiota, pimpinela (Sechium edule) christophene, vegetable pear, mirliton, choko, starprecianté, citrayota, chow chow








Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Violales
Família: Cucurbitaceae
Género: Sechium
Espécie: S. edule
Nome binomial
Sechium edule (Jacq.) Swartz, 1800 é uma hortaliça-fruto, ou seja, um vegetal da categoria dos frutos, conhecido pelos nomes comuns de chuchu, machucho, caiota (Açores) e pimpinela (ilha da Madeira). Existe em abundância na ilha da Madeira, principalmente junto aos cursos de água (ribeiras e nascentes). Em países latinos é conhecido como Chayote, enquanto em países de língua inglesa é conhecido por christophene, vegetable pear, mirliton, choko, starprecianté, citrayota, chow chow (India) or pear squash.
Apesar de ser uma hortaliça, ou seja, poder ser cultivada na horta caseira, é considerada um fruto, tal como o tomate (devido ao fato de suas sementes estarem dentro, resultado da fecundação do óvulo da flor, envolvidas pela parte comestível).
História 
Sua origem é atribuída à América Central em países como Costa Rica e Panamá. Foi registrada pela primeira vez pelo botânico Patrick Browne em 1756.
Segundo alguns historiadores, essa hortaliça-fruto já era cultivada no Caribe à época do descobrimento da América. É uma trepadeira herbácea da família das cucurbitáceas.
Era bem conhecida na antiguidade pelos astecas e tinha grande destaque entre as demais hortaliças cultivadas na época, devido ao seu sabor característico e bastante suave, podendo ser consumido durante o ano todo. De fácil digestão, rica em fibras e pobre em calorias, bom para um regime alimentar.
Na Madeira, é conhecida por pepinela ou pimpinela e faz parte da gastronomia local, sendo normalmente cozida com feijão com casca, batatas e maçarocas de milho para acompanhar pratos de peixe, normalmente caldeiradas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O nome do cão - Manuel Pina

Robert E. Wood

O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,
mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.
Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconhecia
de algum modo essencial
que nos escapava
ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
o cão ia.
E aí adormecia
dum sono sem remorsos
e sem melancolia.
Então sonhava
o sonho sólido em que existia.
E não compreendia.
Um dia chamámos pelo cão e ele não estava
onde sempre estivera:
na sua exclusiva vida.
Alguém o chamara por outro nome,
um absoluto nome,
de muito longe.
E o cão partira
ao encontro desse nome
como chegara: só.
E a mãe enterrou-o
sob a buganvília
dizendo: "É a vida..."

23 de ago. de 2016

Mário de Andrade - fotógrafo








fonte: http://oficinasculturais.org.br/mariodeandrade/

O remo sou eu mesmo... Mia Couto


Meu pai me queria confessar intimidades. Que o avô tinha falado com ele. E lhe mostrara como ele, o meu pai, não sendo o mais idoso era o mais envelhecido de todos nós. Porque era o mais desistido de tudo, o mais alheio ao alento e à crença. Aquela chuva se imobilizava junto ao solo? Pois também ele, o meu pasmado pai, tinha estancado junto à vida. O avô entendera o porquê da desistência de meu pai viver, o falir da sua esperança. O verdadeiro motivo daquela modorra não era ele ter estado, anos e vidas, fechado nas minas. Todo homem, afinal, está sempre saindo de um subterrâneo escuro. É por isso que tememos os bichos que vivem nas tocas -, partilhamos com eles esse mundo feito de trevas, segredos murmurados por demónios em chamas. O verdadeiro motivo de meu pai ter desistido era porque ele se pensava como o centro de si mesmo. Meu pai estava entupido de si próprio. Ele fora sufocado pelo seu umbigo.
      A solução era sair de dentro de si, arregaçar as mangas e os braços, arregaçar a alma inteira e tomar a dianteira sobre o destino.
      - Você já escavou no fundo da terra. Escave agora no céu.
      Foi assim que o avô falou. Meu pai entendeu, sem mais explicação. O avô queria a viagem. Na outra margem estava Ntoweni. Do outro lado do chuvilho estava um rio parado.
      A canoa e mais a viagem fariam a ponte que faltava.
      - A ponte entre o rio e a chuva? - perguntei.
      - A ponte entre eu e você, meu filho.
      Sim, porque a ponte entre ele e minha mãe já estaria refeita, a paixão renascida da cinza pela fagulha do ciúme.
      - Eu me sinto na boca da mina, espreitando a claridade. Sua mãe me dá à luz. É isso que eu sinto. Você lembra como dizia o avô?
      Dizia? Meu pai já falava do avô no passado. Abanei a cabeça em recusa desse tempo de verbo mais do que em resposta a meu pai.
      - O amor não é a semente. O amor é o semear. Era assim que o mais-velho dizia.
      Nos erguemos, sem pressa, para subir a ladeira. Meu velho espiou-me o semblante para confirmar a minha tristeza.
      - Não fique triste, filho. Que tudo isso é um engano. Não é o morrer que é para sempre. O nascer é que é para sempre.
      E fomos buscar o avô. Trouxemo-lo nos braços como se ele fosse uma criança. Depois o deitámos no barco. Meu pai apontou a proa em direcção ao mar. Eu coloquei os remos dentro da canoa. Mas ele devolveu-mos.
      - Não preciso. O remo sou eu mesmo...
fonte: A Chuva Pasmada. Editorial Caminho, 2004.

21 de ago. de 2016

Cada palavra dita é a voz de um morto :: Fernando Pessoa


Cada palavra dita é a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se não velou
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.

Poema inédito de Fernando Pessoa foi encontrado em um  "livro de autógrafos" com um manuscrito de do poeta na última página. O caderno foi comprado pelo advogado brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho, direto de  alfarrabista português.


19 de ago. de 2016

Antepassados :: Tamara Kamenszain (1947, Buenos Aires, Argentina)



Aonde vão?
Vou com eles descendo de meus filhos
até onde queiram chegar astros circulantes
se na hora do nascimento calcularam ascendente
não o abandonem mais.
Do Mar Negro até o Estreito
naturalizam-se comigo de mim procedem
meninos de sobrenome decomposto
viajando para ser argentinos
imigrantes por vomitar no convés
dando voltas eles nos voltam
como vinil arranhado dos beatles
da Rússia para cá
e daqui para a URSS que foi
donos de um deserto que avança bisavós do nada.

( tradução de carlito azevedo & paloma vidal)
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Antepasados
Adónde van? Me voy con ellos desciendo de mis hijos hasto donde quieran llegar astros rodantes si a la hora del nacimiento calcularon ascendiente no lo abandonen más. Desde el Mar Negro hasta el Estrecho se naturalizan conmigo de mí vienen chicos de apellido descompuesto viajando para ser argentinos inmigrantes por vomitar en cubierta dados vuelta nos vuelven a nosotros como vinilo rayado de beatles de Rusia para acá y de aquí a la URSS que fue dueños de un desierto que avanza bisabuelos de la nada.