Antonio Candido:
Gosto tanto de você. Parece que o conheço desde que nasci, pois é tão parecido com a gente da minha família: modo de ser, de se vestir, de falar, de ficar indignado. Neste dia em que escrevo, bem que gostaria de lhe dar um abraço daqueles apertados e até um beijo. Mas se não vou até aí, é porque não consegui me desvencilhar do medo fóbico que tenho de viagens e de avião. De todo modo, a distância que me separa de você, eu a venço com a sua lembrança. Penso no que eu poderia dizer e ouvir, construo conversas imaginárias que me parecem reais, já que tenho de cor o som de sua voz acompanhada por sua gesticulação de dedos compridos e finos como os de Murilo Mendes. É como ouvir e ver uma música e sua regência dentro de mim. Com todo o afeto e saudade de Cristina e Armando.
ARMANDO FREITAS FILHO, 77, poeta, é autor de "Dever" (Companhia das Letras).
A carta estava sendo feita para o seu aniversário, em julho. Gostava de escrever para Antonio Candido com antecedência, a fim de ter tempo para caprichar até não poder mais, com a minha amizade por ele bem inspirada na minha mão e no meu coração. Ele morreu, mas a lembrança da sua voz escrita e falada nos ajudará sempre.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
21 de mai. de 2017
O mundo do meu avô era o meu preferido :: MARIA CLARA VERGUEIRO
Antonio Candido de Mello e Souza
Já era recorrente a queixa de que, àquela altura da vida, nenhuma das suas referências poderia perseverar. Fui cúmplice: "Eu também, Vô, não compreendo e muitas vezes não me sinto parte, inclusive porque este terceiro tem uma característica que o diferencia brutalmente dos anteriores, que é a velocidade. Também não acompanho". Sorrimos juntos e partimos para o tema seguinte.
Todos os assuntos eram nossos, qualquer questionamento valia a pena, nenhuma inquietação pedia reserva. De uns tempos para cá, nos relacionávamos como um par sem idade, sem gênero. Eu me divertia de pensar que meu mais querido e precioso confidente era meu avô, de 98 anos. Ele, um homem, um senhor quase centenário, absolutamente atuante no topo da hierarquia familiar. Eu, uma mulher, sua neta, que ele ajudou a criar.
Confeccionávamos chapéus e espadas de jornal, comprávamos presentes nas lojas do bairro, assistíamos a toda a sua coleção do Chaplin ou do Fred Astaire em um feriado. Entrava na sua Brasília cor de vinho depois da escola, ia para o balé e, na volta, podia bater a máquina o quanto eu quisesse, fazer perguntas sobre mitologia grega para a lição de casa ou ouvir alguma das nossas fábulas, tiradas de livros italianos, dos exemplares raríssimos da sua própria infância, ou da sua imaginação. Ganhava notas de dinheiro dentro de envelopes com dedicatória. Fazíamos a barba juntos, com pincel, espuma e sem gilete. Pedi socorro e me abriguei na sua casa até o fim.
Três dias depois do nosso último almoço ele foi internado, com um problema que logo de saída me pareceu insolúvel. Foi aí que uma ideia nunca mais me abandonou: o mundo do meu avô era o meu mundo preferido e, apesar da idade avançada ser sempre prenúncio de partida, não estava de fato preparada para seguir sem ele.
Como permanecer na minha frenética dimensão sem a possibilidade de escapar para aquele universo carregado de conforto e delicadeza, que ele oferecia sempre que qualquer um de nós se dispusesse a bater na sua porta? Seria desalentador viver dali em diante, sem o bálsamo da sua palavra, dos gestos, das histórias.
Para mim, o mundo do Vovô Candido –como todas as seis netas e o único neto homem o chamam– é tecido nas linhas da memória e do afeto. Começa quando o primeiro antepassado pisa em terras brasileiras e nunca termina de ser costurado. Parte do princípio de que somos todos personagens de uma mesma história, ligados por existências múltiplas e cheias de significado, não importando se fomos barbeiros na sua pequena Santa Rita de Cássia, escravos libertos de uma fazenda esquecida do sul de Minas, influentes barões de Cerro Azul, comerciantes poliglotas ou fazendeiros de café que sonham em ser poetas. Cada um dos milhares de filhos das suas árvores genealógicas favoritas (colecionadas ao longo de quase um século) tem uma história e uma marca para ser lembrada.
Sabia de cabeça datas de aniversário, casamento e morte. Contava com riqueza de detalhes –incluindo os timbres vocais, o caminhar, os tiques nervosos– cenas reais que pareciam saídas de um dos seus filmes prediletos, que assistíamos juntos em fitas VHS e cujos diálogos decorávamos e repetíamos exaustivamente como bordões, pela vida afora.
Esse interesse tão singular pelas trajetórias fazia dele um ouvinte gentil, rico de um repertório que não estava nos livros, mas na experiência de carne e osso.
Dizia que vinha vivendo tanto porque "era um sujeito moderado", que quase nunca se exaltava, de modo que isso devia ter-lhe conservado o coração, o sono, a consciência e, ao final, a saúde. Que, apesar de adorar a companhia dos amigos e da família, sentia-se bem quando só, com suas ideias.
Um dos funcionários do prédio em que ele viveu os últimos 20 anos fez questão de deixar claro: "Sei que o professor era muito importante. Mas o que eu queria mesmo dizer é que ele foi a pessoa mais maravilhosa que conheci, sempre tão atencioso conosco". No mundo do meu avô a gentileza, a solidariedade e a beleza da vida são rainhas. Com seus atributos femininos, governam as leis naturais. Distribuem, ofertam, pacificam, toleram, cuidam.
Tivemos o privilégio de tê-lo na dimensão familiar, possivelmente tão exaltada nele quanto a intelectual. Mas meu avô foi além. Levou longe sua capacidade de compartilhar conhecimentos e, mais longe ainda, a nobreza das suas atitudes. Embora ele próprio não acreditasse em Céu e invejasse aqueles presenteados pela fé, tenho certeza de que o que se lhe reserva é bom, como ele. E eu, aqui neste mundo, me conforto na ideia de que tive meu Céu em vida.
Maria Clara Vergueiro, jornalista e editora, é neta de Antonio Candido
Folha de São Paulo,
20/05/2017
20 de mai. de 2017
17 de mai. de 2017
Frank O Hara (1926- 24 de julho de 1966)
AUTOBIOGRAPHIA LITERARIA
Quando eu era criança
eu brincava sozinho
canto do pátio da escola
totalmente solitário.
Eu detestava bonecos e eu
detestava jogos, os animais não eram
amigáveis e os pássaros
saíam voando.
Se alguém ficasse olhando
para mim eu me escondia atrás
de uma árvore e berrava “eu sou
um órfão.”
E aqui estou eu, o
centro de toda a beleza!
escrevendo estes poemas!
Imaginem!
tradução de André Caramuru Aubert
......
AUTOBIOGRAPHIA LITERARIA
When I was a child
I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.
I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.
If anyone was looking
for me I hid behind a
tree and cried out “I am
an orphan.”
And here I am, the
center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!
boneca kokeshi. : Simbolizam a alma das crianças
Kokeshi (em japonês 小芥子 ou こけし) são bonecas japonesas, originárias do norte do país. Elas são manufaturadas em madeira, possuindo um tronco simples e uma grande cabeça, pintadas com finas linhas para delinear o rosto. Seu corpo tem desenhos florais, pintados sobre fundo vermelho, preto, e algumas vezes amarelo, envernizadas por uma camada de cera. Uma marcante característica das Kokeshi é a ausência de braços e pernas. Na parte inferior é marcada com a assinatura do artista.
Histórico
As Kokeshi foram produzidas inicialmente pelos Kiji-shi (artesãos da madeira), em Shinchi, em Tagata (Miyagi), de onde a técnica se espalhou para outras áreas das estâncias termais da região de Tohoku. Diz-se que estas bonecas foram feitas originalmente em meados do período Edo (entre 1600-1868) para serem vendidas como souvenires aos visitantes das fontes termais do nordeste do Japão.
Formatos
Tradicional - As formas tradicionais da Kokeshi (Dento), seguem certos padrões particulares e são oriundas de uma determinada área. Compreendem onze tipos: Tsuchiyu, Togatta, Yajiro, Naruko, Sakunami, Yamagata, Kijiyama, Nanbu, Tsugaru, Zao-takayu, e Hijioro. O tipo mais comum é o Naruko, variante feita originalmente em Miyagi, podendo também ser encontrada em Akita, Iwate e em Yamagata. A rua principal da fonte termal de Naruko é conhecida como Rua da Kokeshi, e possui lojas que são dirigidas diretamente pelos escultores de Kokeshi.
Criativas - As formas criativas da Kokeshi (Shingata) o artista permite-se total liberdade para dar-lhe formas, desenho e cores, e passou a ser desenvolvida após a II Guerra Mundial. Elas não estão restritas a uma determinada região do Japão, e os artistas das Kokeshi Criativas moram nas grandes cidades.
A madeira usada para a confecção das Kokeshi varia. Para um tom mais escuro, é usada a cerejeira e as Cornus para tons suaves. O Itaya-kaede, espécie de bordo japonês, também é usado. Tanto para a escultura das formas tradicionais como criativas, a madeira é colocada ao ar livre para descansar durante um a cinco anos, antes de poder ser usada.
Significados metafóricos
Algumas versões dão que, embora o nome oficial da Kokeshi seja "小芥子", sua verdadeira denominação original seria "子消し", significando "crianças perdidas".
Simbolizam a alma das crianças, que as bonecas levem todo o mal que as crianças porventura possam sofrer em vida, esse é o motivo mor da boneca kokeshi.
Religião
Os japoneses, especialmente da Ilha de Okinawa adotaram o costume de usar a boneca em cerimônias de enterro ou crematório de seus entes queridos. Crianças com morte pré-matura, ou antes de completar os 12 meses de idade teriam sua alma fixada nas tradicionais bonecas, para que não se sentissem perdidas na situação além morte. Os familiares mantém a boneca sobre as lápides ou em casa quando o corpo é cremado. É tradição adotar bonecas "abandonadas" com a justificativa de boa sorte no lar.
Oferendas
Sob a justificativa de alegrar o espírito da criança que está retido na boneca, é tradição oferecer frutas, doces, brinquedos e origami mensalmente no dia da morte da criança, evitando assim azar ou maldição.
fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
16 de mai. de 2017
Medo do Silêncio : Mia Couto
Amrita Sher-Gil
15 de mai. de 2017
14 de mai. de 2017
Maria Fumaça :: Liria Porto
sou minha mãe minha filha
(quem me cuidava se foi
quem cuidei não me precisa)
vou eu por mim
(e tenho me saído bem)
mas logo serei minha avó
minha neta
velha demais ou pequenina
para responder por mim
:
preciso ir à estação
com passagem
só de ida
Passé composé :: Ana Guadalupe
Klimt
subiu as escadas
para perguntar sobre as palavras
derrubadas pelo meu sotaque
afirmei que meu amor é
enorme, um móbile
perdido entre arandelas;
disse que meu amor é
firme, retorna com maçãs
e canela das pernas;
se perguntasse sobre a
fertilidade, os perni-
longos, a falta de sorte,
responderia que meu amor é
forte, chacoalha as árvores
sempre que parte.
11 de mai. de 2017
CARTA A THEO :: CELIA FONTÁN
Mándame, entonces,
el cadmio,
el cinabrio,
también un bermellón
y un esmeralda,
minio naranja
y amarillo cromo
y ese azul de Prusia
que de prisa
en el sesgo del huerto
se ha quebrado.
Puede ser
un verde Veronés
pero tiene que llegar
antes que tarde,
no morirse de pena el ultramar
en el mar de los malvas declinantes.
sabes que la luz
es siempre pasajera
y el azul de cobalto
va en amores
que no duran ni quedan.
Cromos, pomos,
lacas de rubia sobrias
que no untuosas,
hay todavía luz
y están los huertos
de intensos perales florecidos.
No te olvides
del blanco de titanio.
el cadmio,
el cinabrio,
también un bermellón
y un esmeralda,
minio naranja
y amarillo cromo
y ese azul de Prusia
que de prisa
en el sesgo del huerto
se ha quebrado.
Puede ser
un verde Veronés
pero tiene que llegar
antes que tarde,
no morirse de pena el ultramar
en el mar de los malvas declinantes.
sabes que la luz
es siempre pasajera
y el azul de cobalto
va en amores
que no duran ni quedan.
Cromos, pomos,
lacas de rubia sobrias
que no untuosas,
hay todavía luz
y están los huertos
de intensos perales florecidos.
No te olvides
del blanco de titanio.
10 de mai. de 2017
CAMPO :: Sophia de Mello Breyner Andresen,
BORIS KUSTODIEV
Estou só nos campos
A doce noite murmura
A lua me ilumina
Corre em meu coração um rio de frescura
De tudo o que sonhou minha alma se aproxima
In: Livro sexto, 1962
9 de mai. de 2017
Nossas vidas são Suíças :: Emily Dickinson (1830-1886)
Nossas vidas são Suíças —
Tão quietas — tão Frias —
Até que uma tarde vem
Soltam os Alpes as suas Cortinas
E divisamos mais além!
A Itália fica do outro lado!
Qual sentinelas, porém
Os Alpes solenes
Os Alpes sirenes
Para sempre intervêm!
........
Our lives are Swiss —
So still — so Cool —
Till some odd afternoon
The Alps neglect their Curtains
And we look farther on!
Italy stands the other side!
While like a guard between —
The solemn Alps —
The siren Alps
Forever intervene!
tradução: Isa Mara Lando
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