7 de nov. de 2013

A CASA ARRENDADA de JOAQUIM PESSOA


Põe rendas na casa
da casa de renda
com ternuras de asa,
perfumes de lenda.

Põe lendas antigas
em jarras modernas.
Sua boca abriga
palavras eternas.

Põe fios de lume
de leve no peito.
Lençóis de ciúme
aquecem-lhe o leito.

Esquecem-lhe os medos
mas lembram-lhe as mágoas.
Medeiam segredos
em serenas águas.

Quando o pensamento
lhe abre as janelas
as éguas do vento
entram-lhe por elas,

por alas de rosas
de rendas cuidadas
como mariposas
azuis, delicadas.

Delícias, delírios
de linho, esvoaçam.
São lentos martírios
que as mãos entrelaçam.

Se o dia é um lago,
um mês ou um ano,
por dentro é afago,
por fora é engano.

E fiam sentadas
filhas de princesa,
bordam almofadas,
toalhas de mesa.

À noite no leito
tem corpo de abraços
e a rosa do peito
desfaz-se em pedaços.

Mas nada lhe importa
e, com mãos de Fada,
põe trancas na porta

da casa arrendada.

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