6 de nov. de 2013

Apoderava-se das minhas palavras :: Fernando Esteves Pinto


Apoderava-se das minhas palavras 
como se fossem uma toalha do seu rosto
alguns utensílios reservados para a sua vida. 
Eu escrevia casa e a casa teria de ser a defesa do nosso amor. 
Eu escrevia cama e a cama transformava-se num jogo de silêncio.
Vivia por trás da minha escrita 
como se preenchesse a alma de tudo o que não entendia.
Queria que eu mobilasse a vida só com palavras 
breves imagens que fossem o retrato do meu pensamento. 
Eu proporcionava-lhe a felicidade como um enigma
em cada palavra um sentimento formalmente virtual
depois abandonava-a com a ilusão do espaço decorativo.
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In:  Área Afectada.  Temas Originais, 2010

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